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Donny Silva

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O Rappa

O grito "olha o rapa!" significa ruas vazias e gente correndo. Nem poderia ser diferente. Na g?ria popular, rapa ? o ca?ador de camel?s, o inimigo n?mero um da economia informal. Por?m, uma pequena varia??o desse sinal de alerta, j? quer dizer pistas cheias de gente. Com um "p" a mais e usando as cal?adas como fonte de inspira??o, O Rappa faz apenas contrabando de id?ias.

O esbo?o da banda surgiu quando Nelson Meirelles (1? baixista) se viu acompanhando o cantor Papa Winnie, em uma s?rie de shows no Brasil, ao lado de Marcelo Lobato, Alexandre Meneses e Marcelo Yuca, uma banda formada ?s pressas apenas para acompanhar os jamaicanos. Curr?culo n?o faltava aos integrantes. Nelson foi produtor do
Cidade Negra e de programas de r?dios alternativas do Rio; Lobato tinha feito parte da ?tima banda "?frica Gumbe"; Alexandre tocou com grupos africanos na noite de Paris; e Yuca fez parte do grupo de reggae da Baixada Fluminense, KMD-5. Animados com o resultado das apresenta??es, os quatro resolveram continuar juntos. Faltava, contudo, uma voz. Um an?ncio colocado no "Rio Fanzine" (caderno de m?sica do Jornal O Globo) resolveu o problema. ?ltimo de uma extensa lista de candidatos, Marcelo Falc?o ganhou a vaga com nota 10 em t?cnica e emo??o. Nascia, ent?o "O Rappa".

Disposto a mexer em v?rias mercadorias do barulho ? roots, dub, raggae, rap, samba... E os shows n?o paravam; a cada apresenta??o, novos f?s. Os passos seguintes foram a contrata??o pela Warner Music, a grava??o do 1? CD e sua mixagem em Londres, a cargo do baixista e maestro Dennis Bovell, parceiro insepar?vel do poeta dub Linton Kwest Johnson. E assim O RAPPA chegou as lojas em 1994.

O 2? disco do grupo veio com todos os ingredientes necess?rios para, finalmente, colocar a banda na lista das mais tocadas e vendidas do pa?s. Produzido pelo "mestre" Liminha com a participa??o de Wellington Soares na percuss?o e dos DJs Z? Gon?alves, Rodrigues, Paulo Futura e mudando de baixista (sai Nelson Meirelles e entra Lauro Farias) o ?lbum veio recheado de letras ?cidas e muito su?ngue.

Para compor o repert?rio, al?m das can??es pr?prias, foi resgatada a m?sica Vapor Barato (de Wally Salom?o e Jards Macal?), gravada originalmente por
Gal Costa em 1971, no auge do Tropicalismo e Ile Ay?, de Paulinho Camafeu, conhecida na voz de Gilberto Gil. Foi feita tamb?m uma vers?o arrasadora do cl?ssico Hey Joe, de Jimi Hendrix. As faixas Mis?ria S.A., in?dita do compositor carioca Pedro Lu?s, Pescador de Ilus?es, A Feira, Tumulto e O Homem Bomba n?o sa?ram da boca da galera. RAPPA-MUNDI chegou as lojas em 1996 e tocou por 3 anos nas r?dios.

Duas faces de uma mesma realidade; dois mundos distintos e correlatos. O 3? ?lbum de O Rappa escancara ainda mais as diferen?as pol?ticas e sociais, deixando evidente a maturidade do grupo carioca.

Passaram-se 3 anos desde RAPPA-MUNDI (que vendeu 300 mil c?pias), e logo no primeiro single deste novo trabalho, fica f?cil entender o que O Rappa andou fazendo neste intervalo: gritou as diferen?as absurdas e buscou suavizar a vida de quem tem pouca esperan?a em um futuro melhor. A letra de Minha Alma (a paz que eu n?o quero) ? clara: "Paz sem voz / N?o ? paz, ? medo".

Das m?sicas ? atua??o junto ao grupo
AfroReggae, de Vig?rio Geral (RJ), surgiu a id?ia para o projeto "Na Palma Da M?o" ? Campanha de Incentivo aos Jovens de todo o Brasil. A iniciativa d'O Rappa conta com o apoio de uma das mais conceituadas ONGs brasileiras, FASE (Federa??o de ?rg?os para a Assist?ncia Social e Educacional) e seu Setor de An?lise e Assessoria e Projetos (SAAP). No encarte do CD e nos folders distribu?dos pelos shows banda pede a participa??o dos f?s e doa??es na c/c da Campanha. Os fundos arrecadados foram repassados a projetos ligados a jovens carentes, com programas educacionais, da alfabetiza??o ? conquista dos direitos individuais.

Das 12 faixas do disco, apenas Se N?o Avisar o Bicho Pega (Jorge Carioca, Marcinho e Marquinhos PQD) n?o leva assinatura d' O Rappa. Chico Neves acompanhou a banda durante os 4 meses de grava??es no Rio e mixagem na Inglaterra. Produziu quase tudo, exceto as faixas LadoB LadoA e Na Palma da M?o, sob a responsabilidade do produtor norte-americano Bill Laswell (
Bob Marley e Peter Gabriel) que encerrou o ?lbum com um solo dub de baixo.

Atitude n?o ? algo que se fabrica. O artista pode algumas vezes apelar para estrat?gias de marketing - um roqueiro pode tocar com a guitarra nos joelhos e simular a rebeldia que se espera dele, assim como um rapper pode inventar pol?micas e posar de gangster mal-encarado. Mas a postura sincera, aquela que transparece e cativa o p?blico, essa n?o h? publicit?rio que consiga reproduzir. E essa ? uma virtude que sempre caracterizou O Rappa, desde sua estr?ia no mercado fonogr?fico.

Segundo a cr?tica do Jornal O Globo (agosto/2001) "O Rappa ? daquelas bandas que, sejam num muquifo ou numa grande casa de shows, sempre fez apresenta??es envolventes e memor?veis, com a mesma energia e sintonia com a plat?ia. Por isso um disco ao vivo da banda era mais do que esperado, j? que os shows reverberam por dias em nossa cabe?a. Esse CD ? tudo que se espera dO Rappa em cima de um palco. Da primeira a ?ltima m?sica ele envolve e nos faz cantar junto, refletir com as letras (desde
Legi?o Urbana que n?o aparecia uma banda t?o sintonizada com os cora??es e as mentes dos brasileiros) e realmente d? show! O grande m?rito do disco foi n?o retocar nada. E nem poderia. O que est? no CD ? realmente o que acontece. Quem nunca teve chance de ver o grupo em cena n?o vai perder nada com o disco, a n?o ser as imagens do carism?tico vocalista Falc?o. Como se n?o bastasse apenas a apresentac?o dos cl?ssicos, o disco traz bonus de cinco faixas in?ditas realizadas em diferentes ocasi?es. Tem marchinha de carnaval gravada para um especial da MTV Fica Doido Varrido de Benedito Lacerda e Fraz?o, at? as atuais Ningu?m Regula a Am?rica (com participa??o de Sepultura), Milagre registrada durante um ensaio e as duas resultantes do encontro com a banda inglesa Asian Dub Foundation, Instinto Coletivo e R.A.M "

Segundo o Jornal do Brasil "...a entidade samba-funk-dub-drum 'n 'bass conhecida como O Rappa interrompe sua sensacional linha evolutiva, mas d? ao p?blico a oportunidade de relembrar o que s?o os seus shows - dos melhores da m?sica brasileira nos ?ltimos anos, por sinal".

o sil?ncio q precede o esporro

O Rappa volta a dizer ao que veio, com seus sons superpostos, tessituras eletr?nicas, marca??o pesada e letras de quem fala a l?ngua da comunidade. Visitando praias imprevistas como a bossa nova e o samba ou acrescentando violinos, cellos e violas a seus arranjos, O SILENCIO Q PRECEDE O ESPORRO ? um cd no stop, onde uma faixa leva a uma vinheta, a uma rica tessitura musical, marca registrada da banda na estrada h? dez anos. O Rappa mant?m sua marca d'?gua impressa a ferro e fogo na alma da juventude brasileira, pela sua pegada a todo vapor, pelo seu reggae hardcore de alta voltagem.

Em "O sil?ncio q precede o esporro", O Rappa j? sai batendo pesado com Reza Vela uma m?sica com muitas texturas sonoras para falar da religiosidade e do brinquedo, da reza e do bal?o. O que surge dessa alquimia ? um S?o Jorge a jato, turbinado, com pot?ncia de mil drag?es. O Salto ? uma can??o quase b?blica, onde o tom ?pico ? real?ado pelo arranjo de cordas para violinos celestiais que cruzam com sinais eletr?nicos lis?rgicos que faz voc? acreditar que a vida vai muito al?m da v? filosofia. "E regaram as flores do deserto / e regaram as flores com chuvas de insetos" diz o refr?o prof?tico. Ela ainda volta ao final do cd para ficar bailando para sempre nos arquivos da mem?ria. Linha Vermelha ? uma bossa nova made in Rio, s?culo XXI. Falc?o no viol?o, fala na vida como ela ? hoje em dia em nossas ruas e avenidas, linhas vermelhas e amarelas, onde o tr?fico manda e desmanda, mandando fechar e abrir as art?rias da cidade ao bel prazer. Uma bossa nov?ssima onde "o barquinho" naufragou diante da exclus?o social que cultiva a viol?ncia. Em Obvio, a preciosa presen?a da rapper argentina Malena D'Alessio, fazendo com O Rappa uma embolada inflam?vel, com a l?ngua nos dentes. O que vai dar o que falar desse "sil?ncio" ? o samba Maneiras onde O Rappa se encontra com o mestre da cad?ncia da alma nacional,
Zeca Pagodinho. Um samba legal a nos cobrir com carinho, mais um namoro do samba com a sensibilidade eletr?nica da juventude, onde a magia do canto, das divis?es, da malemolencia, se encontra com a urg?ncia de um rapper. Bendito O Rappa e suas antenas para ir buscar na riqu?ssima m?sica brasileira, sucessos imortais e dar-lhes uma inje??o de vitalidade. Assim foi com Vapor Barato. Assim ? com Deus lhe Pague. Essa obra prima da fina ironia de Chico Buarque cai como uma luva no repert?rio, com humor amargo, percep??o tr?gica que s? nos resta agradecer a Deus e sair de fininho. Mas a voz que vara o cd como uma gargalhada cheia de dentes ? a de Waly Salom?o, parceiro de vida, de toques, de ondas, de chinfra d' O Rappa de longa data. O poeta tinha um faro apurado para a sofistica??o do povo, do que ? gerado nos morros, nas periferias. Wally soube como outro poeta, Oswald de Andrade, que a l?ngua brasileira ? formada "pela contribui??o milion?ria de todos os erros" e assim amou todas as g?rias, todas as giras, e ? amado com a alma inteira de quem as cria.

O SILENCIO Q PRECEDE O ESPORRO ? o grande caldeir?o alqu?mico desse in?cio de mil?nio onde o "bater cabe?a" ? muito mais que um jeito heavy metal de dan?ar. ? tamb?m o sinal de respeito e a sintonia com o que tem valor por todos os s?culos dos s?culos. Am?m!

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