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Kauan Santana

Ídolos

Engenheiros do Hawaii

Tudo come?ou em Porto Alegre no ano de 1984. Devido ? greve na faculdade de arquitetura, as aulas se estenderiam at? janeiro de 85 e diante da situa??o a faculdade organizou happenings com os estudantes que produzissem arte na escola.

Humberto Gessinger (que na ?poca tocava guitarra) ficou sabendo que Carlos Maltz tocava bateria. Os dois esbarraram em Marcelo Pitz (baixista) e juntos decidiram participar da bagun?a, ainda com a participa??o de Carlos Stein (Nenhum de N?s) na guitarra , que logo deixou a banda.

Engenheiros do Hawaii???!
Na faculdade, os estudantes de arquitetura e engenharia se envolviam em rixas curriculares, filos?ficas, estilos de vida opostos... Enfim, o pessoal da arquitetura inventou um apelido pra acabar com os inimigos. "Todo estudante de arquitetura ? meio arrogante, acha que os engenheiros est?o abaixo. Tinha um pessoal na engenharia que usava aquelas roupas de surfista, e, para irrit?-los, n?s faz?amos quest?o de chama-los de "engenheiros" e, mais do que isso, engenheiros do hawaii, que ? um para?so meio kitsch".

Na ?poca, Porto Alegre e o Brasil presenciavam uma explos?o de bandas punk, quase sempre com nomes her?icos: Cavaleiros do apocalipse, Virgens Nucleares, Legi?o Urbana, Tit?s, Replicantes, Garotos de Rua etc... O que segundo Humberto tamb?m contribuiu para a ado??o do nome: "Sempre me assustou essa coisa her?ica da m?sica pop, porque te leva a ser meio semideus. Engenheiros do Hawaii era um nome desmistificador, ningu?m nos levaria muito a s?rio. ? um nome que at? hoje nos protege de nos encararem como sacerdotes".

11 de janeiro de 1985
Essa foi a data do primeiro show, por sinal coincidindo com a abertura do Rock in Rio I. Enquanto no Rio s?o soltas centenas de pombas da paz os tr?s engenheiros apresentavam com um repert?rio variado que ia de "? M?nica, abrace o elefante...", passava pelo jingle do chocolate Sem Parar, Lady Laura (Roberto Carlos) at? a abertura do seriado Hawaii 5.0, al?m de uma ou duas m?sicas pr?prias, todas tocadas em compasso de reggae. "O Marcelo adorava e era a coisa mais f?cil de tocar" lembra Humberto.

Saindo da capital
Na semana seguinte tocaram na faculdade de medicina (palco das primeiras vaias), em um bar, em outro, em outro... De bar em bar resolveram viajar pelo interior do Rio Grande. "Cheg?vamos nas r?dios de manh? com uma fita para o cara da r?dio, ele tocava e faz?amos o show ? noite. Foi quando aprendemos qual ? o bot?o de volume e o do tom da guitarra".

Naquele tempo a BMG resolveu lan?ar a colet?nea Rock Grande do Sul, s? com bandas dos pampas. Produziram um festival no Gigantinho para escolher os grupos, os Engenheiros passaram no teste... por pouco!

"Fomos tocar sem esperan?a, s? depois fiquei sabendo que nos inclu?ram no disco porque outra banda desistiu", conta Humberto.

Longe demais das capitais
Eles entraram no LP com duas can??es, e uma delas, Sopa de Letrinhas, estourou no sul. Com o sucesso a BMG decidiu bancar um lp s? dos Engenheiros - e nasceu Longe Demais das Capitais, produzido por Miguel Plospschi. O norte musical do disco apontava de leve para o Ska: "Era a ?nica coisa que eu sabia tocar na guitarra. Tinha trios que nos davam o norte, como o Paralamas e o Police. Mas isso era um fino verniz que logo saiu", lembra Humberto.

Puxado por m?sicas como Toda Forma de Poder, que foi tema de uma novela global (Hipertens?o), Cr?nica, Longe Demais das Capitais e Sopa de Letrinhas, os Engenheiros logo foram ganhando status fora do sul.

Guitarra Nova
Marcelo Pitz n?o conciliou a vida de m?sico com a de rec?m casado e saiu da banda ?s v?speras de um novo disco. Humberto e Carlos continuaram a ensaiar, Humberto agora tocando com o baixo emprestado de Marcelo. S? que ainda estava faltando um elemento - a guitarra. Surge para completar a banda Augusto Licks, que conheceu os Engenheiros por interm?dio de Nei Lisboa, que j? havia feito uma participa??o no Longe Demais...

"Levi - Strauss na ba?a de Guanabara"
Augusto tinha uma guitarra mais anos setenta, que juntamente com o amadurecimento de Humberto como compositor, trouxe outro ritmo ? banda. Surge o segundo lp do trio: A Revolta dos D?ndis (1987), produzido por Reinaldo Barriga Brito. Neste disco come?aram os primeiros "enroscos" com a cr?tica. Os Engenheiros eram chamados de elitistas, e at? fascistas. Acusa??es causadas pelas cita??es presentes nas letras de Humberto que iam de Albert Camus a Jean Paul Sartre. Al?m da conhecida hist?ria do show que os engenheiros fizeram para uma comunidade judaica, em que o Humberto se apresentou com uma camiseta com a estrela de Davi desenhada, enquanto Carlos tocou com uma camiseta que trazia estampada a cruz su?stica.

Humberto e Carlos respondem ?s acusa??es:
Humberto: "?s vezes, a cita??o n?o precisa ser entendida. No mundo de hoje n?o tem diferen?a entre Albert Camus e Mike Tyson. S?o dois produtos de consumo. Eu saboreio Camus como saboreio Mike Tyson. A maioria do povo brasileiro entende mais de existencialismo do que de boxe. Cito Camus porque est? mais pr?ximo de mim. Acho que as pessoas entendem o que ? "d?ndi", pelo menos tanto quanto eu. A "obra aberta" possibilita que uma m?sica seja entendida em todos os n?veis. Os Tit?s conseguem isso. Caetano Veloso, o mais genial de todos, n?o consegue. Talvez nem a gente consiga. A n?vel de "intelectu?lia" citar Camus ? kitsch e demod?. Pra agradar a cr?tica eu citaria Levi Strauss na ba?a de Guanabara".
Carlos: "Fascista n?o ? fazer cita??es pretensamente intelectuais, mas deixar de fazer por julgar que as pessoas n?o v?o entender. Isso ? intelectual e elitista".

Fa?scas com a critica ? parte, o p?blico tomou o caminho oposto e o disco emplacou sucessos como: Infinita Highway, Terra de Gigantes, e A Revolta dos D?ndis.

Alternativa Nativa
Apesar dos dois bons discos, os Engenheiros ainda n?o haviam sido admitidos na primeira divis?o do BRock. Ainda eram uma banda colocada para abrir noites para um grupo audivelmente inferior como o Capital Inicial. Foi o que aconteceu no terceiro festival Alternativa Nativa realizado no Maracan?zinho entre 14 e 17 de julho de 1988. O Legi?o Urbana tocou sozinho nas duas primeiras noites e os Paralamas idem na ?ltima. Mas Gessinger, Maltz e Licks tiveram que abrir para a banda de Dinho Ouro-Preto na noite de s?bado, 16. Eles ficaram ao mesmo tempo perto, abaixo e acima do Capital Inicial. O show dos Engenheiros foi uma esp?cie de rito de passagem entre a garagem e as grandes arenas. Nem o trope?o literal que Gessinger deu no palco ainda na primeira m?sica, Longe demais das capitais, quebrando seu baixo, fez o trio perder o rebolado diante das 20 mil pessoas que lotavam o est?dio. A partir da?, os Engenheiros encheriam est?dios Brasil afora - sobretudo o Gigantinho de sua cidade natal, lotado sucessivas vezes.

*(texto extra?do de "BRock - o pop/rock brasileiro dos anos 80" - agradecimentos a Thiago Picolo -, baseado no livro de mesmo nome de Arthur Dapieve)

Ou?a o Que eu Digo N?o Ou?a Ningu?m (1988)
Um ano depois do revolta os Engenheiros lan?am um novo LP - Ou?a o que eu digo n?o ou?a ningu?m. Neste disco come?am a aparecer elementos novos na m?sica dos Engenheiros. Pela primeira vez o teclado ? inclu?do nos arranjos, e surge a? tamb?m a primeira composi??o de Gessinger e Licks - Varia??es sobre um mesmo tema. Mais uma vez a banda ? alvo da cr?tica, desta vez em rela??o aos clich?s subvertidos presentes nas letras de Gessinger.

Carlos: "Somos absolutamente fascinados por isso, frases de efeito ou sei l? como chamam. De repente, duas coisas estandardizadas como o s?mbolo hippie e uma engrenagem, quando juntam v?o formar uma outra coisa. Essa ? uma viagem da banda".
Humberto: "O que me fissura nos ditados ? que s?o superpresentes. Fico atento pra pegar essas p?rolas, essas frases de caminh?o. A gente subverte uma palavra no fim e j? cria um efeito amb?guo. O nonsense e o abstrato s?o geniais, o supra sumo da cultura ocidental. Mas hoje em dia eu tenho horror da sua vulgariza??o. Acham que todo nonsense faz sentido, caretearam. O que a gente tenta ? sair desse atoleiro de nonsense. ? buscar o significado e enlouquecer, desmistificar a raz?o. Pegar um ditado teoricamente careta e subvert?-lo".

Deste LP nasceram sucessos como: Ou?a o que eu digo, n?o ou?a Ningu?m, Somos quem podemos ser, Tribos e Tribunais e A verdade a ver navios.

A caminho das capitais
Com o lan?amento do terceiro disco os Engenheiros mudaram-se para o Rio de Janeiro. "Se a gente n?o viesse, a banda acabava(...) A gente foi quase expulso. N?o pelas bandas mas por todo o ambiente que se formava. N?o quer?amos virar para o sul o que aCarmem Miranda ? para o Brasil.(...) N?o nos sent?amos capazes de representar o Rio Grande do Sul. N?o represent?vamos porra nenhuma. Nossas fam?lias est?o h? apenas duas gera??es por l?. n?o consigo nem diferenciar uma vaca de um cachorro se ele n?o latir", explica Humberto.

Carlos complementa: "Vaca ? aquilo que tem na capa do Pink Floyd.... Mas pra mim tanto faz morar aqui ou em Porto Alegre. A minha rotina ? exatamente a mesma. Eu nunca saio de casa". "A mudan?a para c? n?o foi uma experi?ncia. No in?cio, j? existia essa possibilidade. E j? est?vamos virando um chav?o em Porto Alegre, 'os representantes do rock ga?cho'", emenda Augusto.

Do Rio direto pra Moscou
Em 89 os Engenheiros andaram visitando terras russas. "Quando recebemos o convite, pensei que ir?amos tocar na Lua, mas, na verdade, fomos at? Marte", brinca Carlos. Empolgados com o convite para tocar em Moscou, os tr?s chegaram a estudar russo por duas semanas e distribu?ram, no show, panfletos com as letras do grupo vertidas para o Russo. Mesmo assim os sovi?ticos n?o entenderam nada. "? que nossas m?sicas n?o retratam a realidade deles", justifica Humberto.

"Um retrato do que j? foi feito e um esbo?o do que vai rolar"
No mesmo ano os Engenheiros lan?am o quarto disco, desta vez ao vivo. Al?vio Imediato re?ne grandes sucessos do grupo como Terra de Gigantes e Toda Forma de Poder em grava??es ao vivo, algumas delas embaladas em novos arranjos feitos especialmente para os shows. O disco foi gravado no Canec?o e fazem parte tamb?m duas m?sicas in?ditas: Nau ? Deriva e Al?vio Imediato, ambas gravadas em est?dio.

N?o se tratava, por?m, de um "disco de sucessos". "A princ?pio ?ramos contra isso, quer?amos mostrar o outro lado da banda. Quando ouvimos a fita do show, vimos que era uma demagogia, porque as m?sicas que ficaram mais diferentes foram as que tocaram na r?dio. As outras tocamos praticamente igual. Diante deste impasse, optamos pelas melhores, hits ou n?o", explica Humberto.

Quem ? mais pop???
Em 1990 os Engenheiros lan?am o quinto LP - O Papa ? Pop. Neste disco a banda grava pela primeira vez uma m?sica que n?o foi composta pelo grupo - Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones, primeira m?sica que Humberto aprendeu a tocar ao viol?o, ainda crian?a, e que era tocada inicialmente pela banda em showm?cios para elei??o presidencial de 1989. Este disco al?ou os Engenheiros a categoria de "melhor banda de rock do Brasil". Vendeu mais de 350 mil c?pias e estourou com as m?sicas: O Papa ? pop, Ex?rcito de um Homem s?, Era um garoto...(por coincid?ncia em uma ?poca de guerra), Pra ser Sincero e Perfeita Simetria. Al?m de tantos sucessos, as r?dios ainda descobriram Refr?o de Bolero, m?sica do segundo LP da banda.

O disco caracteriza uma est?tica "limpa", desde a capa at? o som, gravado com bateria eletr?nica, guitarra e baixo totalmente limpinhos. Marca tamb?m o batizado da banda como produtora de seus discos, fato que se repetir? nos pr?ximos dois LPs.

Ignorados pela Folha, elogiados pelo New York Times
No meio de toda essa briga com a cr?tica os Engenheiros foram convidados para tocar no Rock in Rio II, juntamente com Guns n'Roses, Sepultura, Capital Inicial, Lob?o etc... Enquanto outros artistas nacionais eram apedrejados pelo p?blico os Engenheiros fizeram um show que levantou o p?blico com sucessos como Al?vio Imediato emendada com Help dos Beatles e Era um garoto... Os Engenheiros foram a ?nica banda brasileira a se apresentar no festival elogiada pelo jornal americano New York Times, enquanto a Folha de S?o Paulo ignorava solenemente duas apresenta??es da banda para um Ibirapuera lotado, n?o divulgando nem em roteiro.

"Prenda minha parab?lica, princesinha Clarab?lica"
Em fevereiro de 92 nasce a primeira filha de Gessinger - Clara. O m?sico deixou de lado as apresenta??es da banda e assume sua corujice em rela??o a Clara. "Nessas horas ? que a gente v? como o homem fica pra tr?s, e o que vale mesmo ? a mulher". A banda parou as apresenta??es em dezembro do ano anterior para que Humberto pudesse acompanhar o nascimento da filha. "Nada nem a banda me faria ficar sem ser pai" diz. "J? prometi pro Maltz que ela ser? baterista", brinca Humberto.

A cobra morde o pr?prio rabo
Em 1991, lan?am V?rias Vari?veis, que marca o fim de uma trilogia iniciada com A Revolta dos D?ndis (que tinha a capa amarela), e continuou com Ou?a o que eu digo, n?o ou?a ningu?m (de capa vermelha). Com o verde de V?rias Vari?veis, completam-se as tr?s cores prim?rias da bandeira do Rio Grande do Sul.

O disco tr?s uma cover de Herdeiro da Pampa Pobre do Ga?cho da Fronteira, uma homenagem a S?o Paulo e a Caetano com Sampa no Walkman, refer?ncias ao movimento pol?tico dos anos sessenta em O sonho ? popular, al?m da irada Sala Vip, composta nos bastidores do Rock In Rio II.

Foi o segundo disco produzido pela banda e abre um espa?o para a improvisa??o em takes falsos como na m?sica Curtametragem e at? o som do banquinho do piano rangendo em Descendo a serra. Fez sucessos como Piano Bar, Ando S?, Muros e Grades e Herdeiro da pampa Pobre.

M?sica Popular Brasileira ou Rock Progressivo Ingl?s???
No ano seguinte ? lan?ado GLM - Gessinger, Licks & Maltz, s?timo disco do grupo. O lp traz refer?ncias, quase apologias ao rock progressivo ingl?s, que v?o desde os arranjos de guitarra de Licks, at? o pr?prio formato do disco, com m?sicas emendadas formando uma geometria perfeita como uma esfera. Os vocais mostram uma nova face de Gessinger, sem medo de tons mais altos como em No Inverno fica Tarde + Cedo.

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